Terapia Familiar: o que é?
A terapia familiar é uma forma de psicoterapia que visa promover saúde emocional, melhorar relacionamentos e resolver conflitos dentro da família.
Possui como premissa, o fortalecimento dos vínculos familiares, a melhora da comunicação ou a comunicação eficaz entre os membros, a resolução de conflitos e disputas, a tratativa das questões emocionais e comportamentais internas e a compreensão da dinâmica de funcionamento e relacionamento entre os membros.
No área da psicologia clínica, até 1940, era comum a prática psicoterapêutica individual orientada por exemplo pela psicanálise e a ideia de que o comportamento humano era regido hegemonicamente por forças intrapsíquicas.
Depois da segunda guerra houve uma necessidade de união das famílias e compreensão maior das questões ambientais e interrelacionais, para além das questões intrapsíquicas individuais; é aí que ganha força a teoria sistêmica familiar, que possui foco nos sistemas humanos, ou seja, de seu desenvolvimento dentro da rede de relações e da cultura da comunicação dentro da família. Assim, na década de 50 ocorre um movimento de combinação entre abordagens já consolidadas, como a psicanálise, e novos conceitos, de teorias de grupo também, que deram origem a abordagem sistêmica familiar.
A abordagem sistêmica familiar, portanto, visa compreender o funcionamento da família como um sistema, isto é, como um todo, que funciona como um organismo, em que os membros se encontram interligados, com códigos próprios (muitas vezes inconscientes), que regem e influenciam o comportamento e o relacionamento de uns para com os outros no grupo familiar.
Dentro da premissa sistêmica e psicanalítica de grupo, o sintoma trazido por um membro familiar, pode ser a manifestação do grupo como um todo, sem que ainda todos tenham percebido ou se implicado com a questão. Neste sentido, a queixa que se evidencia primeiramente e é trazida pela família, pode ser a ponta de um ice berg a ser explorado e que interliga todos os membros familiares nesta rica trama!
Como acontece?
Os encontros normalmente duram uma hora e são semanais, mas podem se espaçar para quinzenais também.
Devem acontecer em uma sala apropriada, com ambiente propício a acomodar os membros familiares e estabelecer o resguardo das sessões através da privacidade e sigilo dos conteúdos.
Normalmente compreende a família nuclear, os membros que coabitam a casa, mas também podem incluir algum membro da família extensa se assim for julgado necessário.
Na primeira entrevista o psicólogo colherá os dados para o início da análise da situação, bem como buscará deixar os membros totalmente à vontade, incentivando-os à livre expressão, com respeito a fala do outro.
A medida em que o processo for evoluindo, estabelecer-se-ão metas e exercícios para o desenvolvimento de habilidades ou novas posturas que serão importantes para a resolução dos conflitos.
O psicólogo terá como instrumento a conversa mediada por ele, mas também poderá utilizar jogos, imagens, ou atividades que promovam experiências para reflexão e vivencias necessárias dentro da proposta da terapia.
Ao fim do processo, que dura de acordo com a situação e proposta de cada terapia, o psicólogo explana suas percepções e colocações conclusivas e a família também é convidada a fazer sua avaliação sobre o desenvolvimento deste processo.
O papel do terapeuta Familiar:
O terapeuta familiar atuará como facilitador para que os membros familiares se expressem e quando necessário, mediará os conflitos.
Não cabe a ele efetuar aliança com quaisquer dos membros familiares, mas sim, que facilite com que todos sejam compreendidos e contemplados.
Será estimulado a empatia e compreensão entre os membros e o estabelecimento de diálogo para que uma comunicação eficaz possa acontecer.
O terapeuta, resumidamente, é um facilitador que guia as conversas e promove estratégias para melhorar a comunicação e resolução dos conflitos.
Através de suas perguntas e técnicas de observação, interpretação e análise, ele investigará aspectos conscientes e inconscientes da dinâmica da relação familiar, tais quais os papéis ocupados por cada um, as expectativas que configuram lealdades ou alianças inconscientes que podem estar gerando sofrimentos, as regras (até as não ditas) estabelecidas que geram sofrimento, as repetições de padrão, a característica dos vínculos, etc, para uma reformulação em conjunto, de novas práticas que cessem o sofrimento e reestabeleçam a saúde do grupo familiar.
O foco, portanto, consiste na mudança para novos padrões relacionais, funcionais e saudáveis para todos.
O terapeuta irá então:
– Analisar os comportamentos repetitivos disfuncionais e propor exercícios de tarefas para mudança (clarear as repetições de comportamentos passados que ainda se reproduzem no presente gerando sofrimento, tornar consciente este padrão repetitivo)
– Evidenciar paradoxos na comunicação familiar, estimulando diálogo, compreensão e empatia entre os membros para o reestabelecimento da comunicação saudável e eficaz.
– Observar as regras e alianças que mantém os problemas e incentivar o restabelecimento de regras que promovam mudanças saudáveis no sistema familiar.
Você sabia que os conflitos familiares podem estar se repetindo há tempos através das gerações?
Este mecanismo se chama transmissão psíquica transgeracional e geralmente, quando esta repetição ocorre, é de maneira inconsciente, devido a conteúdos muito pesados que podem estar envolvidos através das vivências e história dos membros familiares. São conteúdos de sofrimento profundo, da ordem do trauma, que abarcam situações que entraram no campo da vergonha, do difícil de ser simbolizado e metabolizado psiquicamente, assim, esses conteúdos a grosso modo ficam bem negados e reprimidos, mas passam através das manifestações da comunicação inconsciente de um membro para outro na família, reproduzindo formas similares, repetidas de sofrimento. Alguns exemplos destas situações traumáticas vivenciadas que podem se reproduzir, são as de violência intrafamiliares, abuso sexual, abuso de substâncias, determinados acidentes, ou doenças específicas, etc.
Este é um fenômeno complexo e com muitas características que o compõem, alguns psicanalistas contemporâneos como Rene Kaes, foram responsáveis pelo seu estudo.
A terapia familiar é uma maneira de buscar sanar também estes conflitos transgeracionais.
Para quem é aTerapia Familiar então?
A terapia familiar então, pode abarcar conflitos mais profundos como os citados acima, envolvendo situações graves de padrões de repetição, mas também pode abarcar situações mais “leves”, por assim dizer, que envolvam a necessidade do reestabelecimento de uma melhor comunicação, por exemplo, ou ainda, habilidades para o fortalecimento dos vínculos entre os membros, superar situações de crise e de estresse, etc.
Neste sentido, é para todos que desejarem melhorar o autoconhecimento e a convivência familiar, sanar conflitos momentâneos ou mais profundos relacionados a crises ou situações específicas envolvendo as famílias, como separações, mortes, nascimentos, questões conflituosas sobre a adolescência, competências parentais, conjugais, interrelacionais, etc.
O que a Terapia Familiar pode te proporcionar?
– Autoconhecimento
Entender a dinâmica familiar à qual faz parte, o papel que ocupa neste grupo familiar, pode te fazer ficar mais consciente do que você quer para si, separadamente das expectativas do grupo familiar que podem estar gerando sofrimento. Este autoconhecimento do grupo como um todo, pode evoluir para uma dinâmica relacional de modificação de papéis para todos.
– Sanar conflitos relacionados a momentos de crise familiar
Toda família passa por estágios específicos de transformações que podem gerar crises diante da necessidade da elaboração de novas habilidades perante as mudanças. Isto pode ocorrer com a chegada de novos membros na família, com a chegada da adolescência de um membro, saída de filhos da casa, casamentos, possibilidades de separação, mortes, lutos, acidentes, doenças e outras situações diversas que geram conflitos e interferem nos relacionamentos.
Trabalhar com a resiliência e o desenvolvimento de novas habilidades para a reconfiguração da saúde emocional na família é muito recompensador!
– Desenvolver maior intimidade entre os membros
Eis aqui um grande benefício que a terapia familiar pode te trazer, afinal, quanto mais conseguimos nos relacionar com empatia e compreensão em relação ao outro (exercícios que serão propostos e treinados na terapia), é possível se estabelecer maior conexão afetiva e consequentemente mais intimidade.
-Fortalecimento dos vínculos familiares
Este item se relaciona com o acima citado, mas também com a necessidade que algum membro familiar possa estar vivenciando devido a circunstâncias externas específicas como longos períodos que um pai ficou sem ver um filho, por exemplo e sente que precisa deste auxilio para o fortalecimento deste vínculo. A família pode estar inclusive passando por atravessamentos judiciais, que tornam este trabalho do fortalecimento dos vínculos muito importante!
– Libertar-se das mágoas
Através da escuta ativa e empática e da possibilidade de expressão dos sentimentos e angústia, mediada pela terapia, busca-se a compreensão de situações para resolução de conflitos. Muitas vezes, situações que compreendem vivências ou percepções do passado, não resolvidas, segredos e medos que trazem mágoas e que, quando libertos, através da terapia, direcionam-se ao reestabelecimento de um presente e um futuro mais pacífico e amoroso familiar afinal, libertar-se das mágoas também ajuda a dar outro significado mais positivo para as relações.
– Trabalhar a autonomia e independência emocional
A consciência sobre os papéis e expectativas familiares exercidos dentro deste grupo, pode trazer à tona também o desejo e a possibilidade de ficar mais autônomo, sem sentimento de culpa ou medo de não pertencimento ao grupo, o que gera resoluções com configurações de papéis mais saudáveis para todos.
– Desenvolver ou fortalecer habilidades de empatia, compreensão e diálogo
Estamos habituados a achar que dialogamos, mas o fato é que, muitas vezes, o que chamamos de diálogo, pode ser uma mera discussão… para que haja de fato diálogo nas relações, é preciso que se estabeleça a prática de realmente ouvir e compreender o outro, colocando-se em seu lugar, expressar-se com calma e por fim, aceitar as divergências que houverem, buscando uma negociação através de possíveis concessões que não deixem ninguém com sentimento de injustiça… Não é assim sempre tão fácil, certo? Mas requer habilidades que em uma terapia familiar, pode-se treinar e adquirir, ou aprimorar!
– Não se reprimir em nome do sentimento de pertencimento
Todos nós buscamos e desejamos nos sentir amados, protegidos, apoiados e pertencentes a um grupo ou relações que possam nos proporcionar este acolhimento. Isto tem a ver inclusive com nossa identidade, nosso self, nosso “poder ser” no mundo, de maneira que nos sintamos aliviados e bem conosco mesmo, diante de afinidades com esses nossos pares. Buscamos as afinidades e o olhar do outro nos completa e nos “re”constrói. Por isso, pode se tornar tão difícil negar expectativas de familiares, mesmo que possam ir contra o que realmente desejamos ou que possa nos trazer sofrimento; pois o que está em jogo em nossa fantasia (ou em alguns casos, até mesmo na realidade), é o direito a pertencermos àquele grupo!
Mas quando trabalhamos na terapia familiar a compreensão e empatia entre os membros, quando isto é possível, as relações se fortalecem independente das divergências e o sentimento de pertencimento pode se fortalecer sem a repressão do eu.
A terapia familiar pode ser, portanto, uma experiência muito interessante e bacana a ser vivenciada, haja visto a relevância que a família, seja ele como e com a configuração que for, tem em nossas vidas!